Cumprindo o papel de denunciar as violações dos direitos dos homens e das mulheres do campo e das florestas, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) continua divulgando dados e números do seu relatório anual Conflitos no Campo Brasil 2010.
O documento vem à tona no momento em que o País ainda tenta digerir as revoltas populares que destruíram alojamentos e outros espaços no canteiro de obras da usina de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia, e na usina São Domingos, em Mato Grosso do Sul, além das recentes mortes de três extrativistas no Pará, um em Rondônia e inúmeras ameaças de morte em especial na Amazônia.
As ameaças de morte mais recentes foram feitas a agentes ligados à CPT Acre. A primeira ao agente pastoral que atua em Boca do Acre, Cosme Capistano da Silva, e a segunda à coordenadora da CPT, Darlene Braga.
A coordenação da entidade acredita que essas ameaças são frutos da atuação da CPT nas divisas dos Estados de Rondônia e Amazonas, em especial nos seringais Macapá e Santo Antônio.
TELEFONEMAS
O primeiro telefonema ameaçador foi registrado dia 3 deste mês, às 21 horas. Um homem, disfarçando a voz, ligou para o celular do agente Cosme Capistrano e disse: “Estou ligando para você avisar aos seus amigos da CPT que morreu gente no Pará e em Rondônia e que agora vai ser no Amazonas e no Acre. E é daí por diante”.
Cinco dias depois foi feito um segundo telefonema, às 10h35. Neste, um homem de voz grossa ligou na sede da CPT em Rio Branco e perguntou se era da Comissão Pastoral da Terra. O funcionário Célio Lima disse que sim. E o desconhecido complementou: “Você diga àquele seu amiguinho Cosme lá de Boca do Acre e àquela sua amiguinha Darlene que eles estão na lista”. Em seguida desligou.
Em apoio e solidariedade aos agentes ameaçados, o CDHEP, o Cimi – Conselho Indigenista Missionáro e a Recid – Rede de educação Cidadã discutiram e traçaram estratégias de como atuar frente à situação, reafirmando a importância da atuação da CPT junto ao homem e à mulher do campo.
A coordenadora da CPT lembrou que desde 1975 a Pastoral cumpre seu papel de denunciar as injustiças sociais e prestar um serviço à classe trabalhadora. “A CPT contribuiu com a posse da terra em todo o país e não vai deixar de cumprir seu papel em decorrências a ameaças causadas pelo latifúndio. Essas ameaças do latifúndio não irão nos amedrontar”, disse Darlene Braga.
NÚMEROS
Em 2010 foram registrados 1.186 conflitos no campo brasileiro, dois a mais que em 2009, quando ocorreram 1.184. O relatório anual da CPT aponta que pelo menos 34 assassinatos ocorreram no campo ano passado, um número 30% maior que no ano anterior quando foram registradas 26 mortes.
Na Amazônia, as mortes têm origem na ausência do estado durante a expansão da região. A dita “corrida pela Amazônia” já se efetivou e continua se efetivando ainda hoje sobre outros moldes. A corrida pela Amazônia já se concretizou em “chegada”.
Mesmo no ano Internacional das Florestas, quando a CNBB lança mais uma Campanha da Fraternidade: Vida no Planeta, que põe em discussão a gravidade da crise ecológica, aprova-se a flexibilização do Código Florestal.
Para a coordenação da CPT, são inúmeros os problemas causados pela flexibilização do Código Florestal. Entre os principais questionamentos está a anistia para os desmatadores e a redução das Áreas de Preservação Permanente (APPs) nas margens de rio e a possibilidade de recompor Áreas de Proteção Permanentes com espécies exóticas e conseqüente crescimento dos “desertos verdes” – como são chamados os monocultivos que geram grandes impactos socioambientais.
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