Nos movimentos sociais, nas diferentes Campanhas de Solidariedade, nas Conferências sobre Políticas Públicas, trabalhamos ombro a ombro com um número cada vez mais crescente de pessoas que não se identificam mais com nenhuma religião.
Mas a grande surpresa é perceber que na realidade estes companheiros de luta acreditam e constituem a categoria simpática dos que crêem sem pertencer a nenhuma denominação religiosa.
Não falo aqui daqueles que ficaram traumatizados por uma experiência decepcionante com alguma seita mercantilista que prometia antes e ameaçava depois, nem de pessoas decepcionadas por escândalos de ordem sexual ou financeiro de alguns líderes religiosos.
Falo de pessoas com que trabalhei nas áreas do voluntariado e da solidariedade, de elevada cultura, amadurecidas nos estudos filosóficos e históricos e sempre em busca da verdade.
Olho e admiro estes companheiros que vivem com dignidade seguindo seus princípios éticos e ganhando respeito por causa de seu coração grande e visão ampla, sempre sonhando que um outro mundo é possível e sem esperar recompensa nenhuma. Jesus um dia surpreenderá convidando-os para o Reino de Deus, pois sem saber deram-lhe de comer, beber, acolhida e roupa.
Quem se formou nas ciências teológicas, sabe como é necessário adquirir um estilo de vida que saiba se relacionar com as pessoas e entrar em empatia também com aquelas que se declaram “sem religião”e não pertencem a nenhuma denominação religiosa.
Seria suficiente lembrar o Bom Pastor que deixa as noventa e nove ovelhas para procurar quem não está presente no rebanho. Nesta página do Evangelho se resume assim a missão do sacerdote – pastor que não só acolhe aquele quem não crê, mas até constrói pontes para ir à sua procura, com respeito e no diálogo.
Mas é justo nesta época pós moderna e pluralista, por respeito às diferentes opiniões, continuar procurando e buscando as “ovelhas perdidas”?
Mas não seria ainda mais perigoso se cada grupo se fechasse em si mesmo e provocasse a trágica separação entre crentes e não crentes, quebrando pontes e numa espécie de racismo religioso acusando uns aos outros de cabritos rebeldes ou de ovelhas alienadas?
Mas o “sem religião” e até o ateu não é um opositor radical a Deus ou aos seus fiéis e nem deveria ter medo de perder uma eleição política por causa desta sua opção , como se fosse um fundamentalista sectário definindo errados e atrasados todos aqueles que acreditam.
Na verdade quando há diálogo entre crentes e não crentes que vivem de forma autêntica os valores éticos e quando há sobretudo uma colaboração entre eles diante dos desafios sociais, quem irá ganhar é a civilização desta fragilizada humanidade, pois neste caso o valores da dignidade humana, da vida, da paz e do respeito da casa comum que é o nosso querido Planeta Terra ficam enaltecidos.
E quando este diálogo acontece, será possível testemunhar que crer é se alegrar que Deus tenha proporcionado ao homem enormes poderes, para favorecer o desenvolvimento científico e tecnológico para o bem estar, o progresso e a felicidade de todos os povos.
E que crer é também aceitar os limites humanos, pois nenhum avanço tecnológico poderá libertar e salvar um homem diante da morte, pois a morte continua sendo um grande mistério.
O Sacerdote-Pastor reconhece o seu serviço de deixar o templo aberto não para desafiar, mas para mostrar a beleza do sagrado, oportunizar um ambiente de silêncio, de meditação, de amizade, e de diálogo e possibilitar a agradável experiência de se sentir de direito e de fato, um filho muito amado pelo Pai de todos.
O companheiro não-crente por sua vez, por seu estilo de vida, sua busca contínua da verdade, por suas sinceras e profundas interrogações e por suas ações consagradas ao bem comum, oferece aos crentes a possibilidade de se questionarem se sua postura caracteriza pessoas que crêem de verdade ou se caracterizam pessoas sem fé, mesmo pertencendo a uma denominação religiosa.
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