O Sacerdote é uma figura que tem uma longa história em nossa cultura por ter cumprido tarefas diferentes conforme a situação social do nosso povo. Conheci aqui no Acre, padres enfermeiros, médicos, professores, engenheiros, arquitetos, poetas, pilotos de avião e advogados, entre eles o padre André, o padre Paulino e o padre Heitor, para citar os mais conhecidos. Hoje este perfil mudou, porque mudou o contexto social, alterando também o aspecto com o qual o sacerdote se apresenta para o povo. “Não se faz mais padres como antigamente”.
Conheci padres de batina longa e preta, com chapéu pontudo e pompons ou abas largas do chapéu duro, depois comecei a ver padres de jeans, camisetas e chinelos, não mais identificáveis e reconhecíveis. Agora vejo também padres de calça e camisa social, sapatos brilhando e barba feita. Isso acontece não para se esconder de sua missão, mas para se consagrar mais totalmente ao serviço de seu povo e tentar se identificar com as pessoas com quem mais é chamado a trabalhar. Na realidade não existe mais a crença de que seja o hábito que faz o Monge, mas hoje se aprecia o modo de ser e de se comportar e de se posicionar, pois é mais o chão que a gente pisa que revela as idéias e as intenções da gente.
Mesmo que o padre seja pessoa culta, pelos estudos enfrentados na longa preparação do seminário, não é o canudo recebido que lhe dá valor, mas sim a sua consagração, que lhe confere a missão ligada ao ministério adquirido através do Sacramento da Ordem.
Mesmo que o padre seja pessoa culta, pelos estudos enfrentados na longa preparação do seminário, não é o canudo recebido que lhe dá valor, mas sim a sua consagração, que lhe confere a missão ligada ao ministério adquirido através do Sacramento da Ordem.
- Subir e descer barrancos com o Sacerdote.
“Subir e descer os barrancos” é uma expressão que ficou gravada há mais de 30 anos na minha cabeça então de jovem e inexperiente missionário quando ao chegar ao Acre encontrei o padre Heitor que me garantia que ao longo de suas viagens missionárias já tinha subido e descido oitocentos e quarenta e quatro vezes os barrancos dos rios Acre, Caeté, Iaco, Purús e outros rios e igarapés de toda a região acreana.
Nós que respeitamos a missão do sacerdote, somos convidados de certa forma a subir e descer os barrancos com ele para conhecer melhor esta figura tão querida e no mesmo tempo “tão estranha” e corajosa aos olhos de muitos. Porque o padre, ao invés de ambicionar os bens materiais escolhe a simplicidade, em vez da afirmação de uma sexualidade baseada num domínio egoísta escolhe a castidade, e em vez da liberdade, que no nosso tempo pode cair na pura libertinagem, ele escolhe a obediência. E suas escolhas não são particulares e anônimas, mas tomadas publicamente através de uma renúncia consciente, na frente de toda a Igreja reunida no dia de sua Ordenação Sacerdotal.
Crentes e não crentes, admiramos figuras de sacerdotes apaixonados pelos seres humanos que se debruçavam sobre homens desfigurados com aparência de trapos, ou perdendo horas e dias tentando salvar adolescentes que enveredavam pelos caminhos reprováveis, inaceitáveis e mais absurdos da vida, ou se dedicando a centenas de jovens dependentes ou detentos nos presídios ou a plantar a esperança nos corações de doentes terminais ou testemunhando o impossível diante de uma família ameaçada de fracassar.
Tenho certeza que valerá a pena “subir e descer os barrancos” conversando com o sacerdote.
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