CEBs, um novo jeito de ser a Igreja de sempre


Análise de uma página da história da Igreja no Acre



         Chegando em Rio Branco em 1974, conheci o Projeto Pastoral da então Prelazia do Acre e Purús, as idéias e a prática de Dom Moacir Grechi, os sonhos de Nilson Mourão e Asfuri, a paixão pelas Cebs da Francisca Marinheiro e da Graça Almeida, o compromisso radical com a Igreja da Analdy, Nildinha, Chico Dantas e Joaquim de Almeida.
  
Foi o primeiro impacto com uma Igreja renovada pelo projeto pastoral das CEBs. Percebi logo que através daquelas escolhas, havia a vontade de pôr em prática os ensinamentos que o Espírito Santo tinha sugerido aos bispos no Concílio Vaticano 2 e sucessivamente aos bispos da CNBB nacional e regional.
  
Dei-me conta que havia um grande amor por Jesus Cristo, uma paixão pela Igreja e uma consagração ao povo mais humilde através da  opção evangélica pelos pobres.
 Realmente a então Prelazia do Acre e Purús, estava ensaiando com centenas de leigos um novo jeito de ser Igreja e uma nova evangelização.




Rio Branco, 06 de Agosto de 2001
Pe. Mássimo Lombardi
p.massimo@contilnet.com.br
Paróquia Cristo Libertador
Rua Ary Rodrigues, 525 - Sobral




CEBs ontem e hoje

As Cebs ainda existem?

         As Cebs no Acre já têm 30 anos. Alguns dizem que se acabaram, outros comentam que estão passando por uma grave crise, outros enfim garantem que ainda existe o fogo das Cebs: só soprar e a brasa vai aparecer.
         Realmente, algumas palavras que se tornaram características na linguagem da Cebs, desapareceram, aquela linguagem que identificava o trabalho das Cebs, ficou fora de moda: Monitor, Centro Comunitário, Encontrão, Escola dominical, Grupos de Evangelização, Análise da realidade, luta, caminhada... a mesma definição de Comunidade Eclesial de Base, tornou-se completamente estranha.
         Apesar de todas as aparências, as Cebs estão aí, precisando com certeza serem mais conhecidas pelos operários da última hora e redescobertas por todos nós em suas linhas essenciais. Pois ninguém pode trabalhar em vão, correndo o perigo de construir fora dos trilhos há tantos anos traçados com suor e sangue.

O Tripé das CEBs: Missão, Leigos e Conhecimento da Realidade

1.   A Missão,  sair do Templo.
As Cebs começaram em 1970 e foram possíveis pela tradição missionária com que a então Prelazia começou: além de chamar o povo para a igreja, procurava-se o povo para andar com ele. E’ a atitude do Bom Pastor, de que as Cebs se orgulham da autoria de quase uma dúzia de músicas diferentes.
     A Prelazia nasceu missionária com os Servos de Maria: bispos como Dom Próspero Bernardi ou Dom Júlio Matioli, passavam meses nos seringais nas famosas desobrigas, religiosos como pe. Paulino se identificaram com os índios e seringueiros, ou como Pe. Heitor visitando com as irmãs “casa por casa, colocação por colocação”. E inúmeras foram as visitas pastorais de Dom Moacir.
     A nossa Igreja começou  por esta prática de pastoral missionária que pode ser realizada de formas diferentes a cada época, porque houve esta escolha fundamental: sair do templo e ganhar as ruas e os rios.
     As Cebs em seguida substituirão as desobrigas com as viagens missionárias, pois a finalidade não será mais só visitar, mas fundar outras novas Cebs. Surgem assim Cebs nos rios e nas estradas (Pastoral das Estradas e dos Rios, assessorada pela CPT). Nas casas dos bairros de periferia (Pastoral da periferia, assessorada pelo CDDH), para a Igreja caminhar com o povo, dialogar e colaborar com todos os homens de boa vontade e compartilhar “alegrias e esperanças, tristezas e angústias” (GS 1).
     As Cebs começaram a construir o Reino de Deus, não porém entre as quatro paredes da sacristia, mas sim lá onde o povo chora e luta, trabalha, se alegra e sofre na fadiga de uma vida sempre incerta.
     A evangelização saia do Templo para anunciar Jesus nas estradas, nos rios, nos varadouros, nas casas e nos ambientes de trabalho.

2.   Os Leigos, a corresponsabilidade.
Em 1970 os leigos de Rio Branco foram chamados pelo bispo Dom Giocondo para uma reunião especial: eram homens e mulheres que já se destacavam nas várias associações com Legião de Maria, Apostolado da oração, Vicentinos, Liga Católica Jesus Maria José. Foi o início de um novo jeito de ser Igreja.
Os leigos tiveram a impressão de terem sido chamados a colaborar mais fortemente com seus vigários, mas quando em 1972 Dom Moacir assumiu a então Prelazia, começaram a entender melhor que a posição que os leigos deveriam Ter na Igreja era de uma verdadeira corresponsabilidade, isto é, mais do que uma simples colaboração.

2.1.       MUDANÇA DE MENTALIDADE NOS LEIGOS.

a) O relacionamento mais comum na Igreja era de submissão do leigo ao padre, herança de séculos de história. Até anos atrás costumava-se ouvir do povo quando questionado pelo padre sobre alguma decisão a tomar: “E’ o senhor padre, quem sabe”.

b) Da submissão à colaboração.  No  Brasil quem  ajudou  esta   passagem  da
submissão à colaboração do leigo com o padre, foi a Ação Católica que engajou na Pastoral as várias categorias de pessoas, como operários, agricultores, universitários. No Acre foi providencial a presença das Associações Católicas nas várias paróquias para colaborar nas diferentes atividades.

 c) Da colaboração à corresponsabilidade. Este passo foi dado pelos leigos que caminharam nas Cebs, recebendo o impulso dos vários Documentos do Concilio Vaticano 2 e em seguida de Medellin, Puebla e Santo Domingo. Na Diocese a reflexão sobre a Igreja toda ministerial e o trabalho da Equipe dos Ministérios, favoreceu a prática da “corresponsabilidade” dos leigos na condução pastoral do caminho da Igreja. Os leigos começaram a agir como co-responsáveis em força de seu batismo, mas na diversidade dos carismas e dos ministérios próprios de cada um. De uma Igreja piramidal se passou a uma igreja circular, isto é, comunhão. Do coordenador da Ceb se dizia: “Ele trabalha em pé de igualdade com o padre”.




3.     A Realidade, o engajamento sócio - pastoral.


Estavam reunidos, padres com Dom Moacir, no escritório dele, então no térreo, janela baixa, ainda sem cerca ao redor da casa. Chegou um grupo de seringueiros, que pela janela reclamavam ao bispo: “Os homens de que o senhor batizou as crianças, nos jogaram fora de nossa terra e queimaram nossas casas”.
    Foi um das dezenas de casos que acompanharam o surgimento e o amadurecimento das Cebs e que converteram  bispo, padres e leigos para viver e servir dentro do mundo.

    Nas Cebs foi bastante amadurecido o relacionamento Igreja – Mundo, como a espiritualidade da encarnação.
-          Se a Igreja  se coloca acima do mundo, se faz servir, acumulando privilégios, poderes e riqueza.
-          Se a Igreja vive fora do mundo, se tranca na sacristia ou no escritório, sem interesse nem envolvimento com os problemas do povo.
-          Se vive ao lado do mundo, olha-o com inimizade, com desprezo e o combate para conquistá-lo.

Se a visão da Igreja for assim, Fé e Vida andam separadas. A realidade social é considerada ou um inimigo a ser destruído, ou um lugar de Satanás de onde fugir ou amaldiçoar.
As Cebs levaram a Igreja a viver dentro do mundo, a serviço do mundo. As Cebs tem tentado habitar no meio desta realidade social, como já fez Jesus que escolheu uma terra, uma língua, uma cultura, uma história onde lavar os pés, amar e se entregar.

A Análise da Realidade.
        
Sempre foi costume nos treinamentos e encontros de formação dos agentes de pastoral das Cebs, especialmente Monitores, apresentar o estudo sobre Análise da Realidade juntamente ao estudo bíblico e catequético.
         A orientação constante da diocese sempre foi a de equilibrar a formação sobre os compromissos de culto, de anúncio, de sacramentos, de organização interna das Cebs, com a formação sobre conhecimentos e compromissos para com os problemas sociais, econômicos e políticos.
         Enfim, a característica das Cebs sempre foi a interação entre fé e vida, entre aceitação do Evangelho e a ação concreta nas diferentes realidades sociais.
         Os Grupos de Evangelização recebiam mensalmente durante anos, material de reflexão para “a vista clarear” à luz do Evangelho, iluminando a realidade social em que se vivia.
         Houve tentativa de criar escolas de formação sócio – política, houve paróquia que fez pesquisa nos próprios bairros sobre os  problemas mais graves que afligiam o povo, como desemprego, moradia, violência, educação. Houve uma grande ajuda, dada pelas Campanhas da Fraternidade, que qualificaram demais a formação dos agentes e dos membros das Cebs, que foram levados até a constituir novas Pastorais, como a da criança, carcerária, do menos, pastoral política, pastoral familiar etc.
         Pela encarnação na Realidade, as Cebs levam a paróquia a ser família que vive e anda com o povo mais sofrido, levam a Igreja não só ao anúncio espiritual, íntimo e individual, mas a uma denúncia aberta e corajosa e a intervir como fermento de transformação  e renovação na vida da convivência humana.
         A Ceb ajuda toda a paróquia, gigante adormecido, a se acordar e a cumprir sua missão nas bases populares, que é a missão de anunciar, organizar e promover a salvação integral. Integral, pois o objetivo principal é salvar o homem todo: espírito, alma e corpo, valores espirituais e valores sociais.

Dois casos típicos de nascimento de CEBs no Acre.

         Vamos lembrar agora como nasceram no concreto as Cebs no Acre, tomando como exemplo dois casos típicos, o primeiro na periferia da cidade, o segundo na zona rural.

1. A CEB num bairro da cidade.

Na década de setenta, uma paróquia X da cidade aceita o projeto de evangelização através das Cebs e se decide pela descentralização e começa a dar os seguintes passos:

- Visitam-se as famílias de um bairro longe da Igreja Paroquial e lá se encontra uma maioria de “distantes” que não tem nenhum relacionamento com a paróquia. Encontram-se também pessoas participando aos domingos das Missas, mas indo na Catedral. Encontram-se uma grande quantidade de famílias procurando a paróquia só pelo batismo dos filhos e às vezes por outro sacramento.

- Descobrem-se  pessoas de grande religiosidade, outras sonhando  ver o bairro mais adiantado, outras com boas recordações das visitas do padre em sua colocação, na época que morava no Seringal. Sempre há  angústia pelas visitas dos protestantes que atacam a Igreja Católica, enquanto muitos mudam de religião.

- Faz-se o convite a pessoas mais sensíveis aos problemas religiosos e/ou sociais para um treinamento dos monitores num fim de semana.
- Começa uma pequena Ceb numa casa, com participação de adultos, alguns jovens e crianças, na maioria mulheres (75%).  A reunião é dirigida pelo Monitor recém - treinado.

- A pequena Ceb recebe a visita do padre e na ocasião o convite é feito a todos, sobretudo se celebrar a Missa. Celebra-se no terreiro da casa.

- Formam-se outras Cebs no bairro, dirigidas pelos Monitores, enquanto surge a figura do Coordenador, que futuramente será escolhido por uma eleição.

- Cada mês, os grupos participam do Encontrão na sede paroquial.

- Construi-se  o Centro Comunitário, para a catequese das crianças, grupo de jovens, Missa mensal, batizados e outros sacramentos, reuniões para encaminhar problemas sociais do bairro e às vezes  a escola dominical.

- As pequenas Cebs chegam a se chamar logo de “grupos de evangelização”. O Centro Comunitário começa a ser chamado de “Comunidade “ (década de 80), de igreja (década de 90) e sucessivamente se ouvirá o nome de “Capela” (2000).

- O nome  “Ceb” desaparece aos poucos, na linguagem e no Novo Milênio já se avança a opinião que cada uma delas poderá constituir uma “miniparóquia”.

- Surgem os Ministérios: o Ministro da Palavra (Monitor), o Coordenador dos Grupos de Evangelização e das Pastorais da Ceb, o Ministro do Batismo, o Ministro da Eucaristia (Comunhão). Isso já nos anos 70.

- No início de 80, a Comunidade começa a ter a Celebração aos domingos e surge assim o Ministro da Celebração e o Ministro da Eucaristia adquirem mais destaque, pois até então não havia Celebração dominical, mas só a Missa uma vez por mês.

- No início de 90, já não há mais Encontrão, Escola Dominical e os mesmos Grupos de Evangelização, esteios das Cebs, desapareceram aos poucos, com as devidas exceções.

O dia – dia das CEBs.

As primeiras decisões das Cebs:
horário da Missa Mensal, horário do Catecismo, horário do grupo de Jovens.

Os primeiros debates e as primeiras lutas:
 como organizar os batizados, como resolver o problema da falta de escola, das ruas e da rede elétrica. Como organizar uma comissão ou uma Associação de bairro.

Geralmente no Centro Comunitário se lançava o problema, sobretudo na ocasião da Missa, quando havia mais gente ou nos encontros de Monitores. Depois o Monitor discutia no Grupo de Evangelização e em seguida, de volta no Centro Comunitário, o Coordenador procurava o consenso.

Nos Grupos de Evangelização, cedo iniciou a preparação dos batizados e em varias paróquia até a Celebração do Batismo. Esta decisão revelou-se um desastre para as Cebs, pois a Sacramentalização tomou conta dos pequenos grupos prejudicando a evangelização

O Centro Comunitário às vezes servia como Escola Pública e sempre foi o lugar para organizar reivindicações de interesse público, diante das autoridades administrativas.

As Cebs das várias paróquias fortaleciam sua caminhada de conjunto  através do Boletim “Nós Irmãos” e do Programa de Rádio “Somos Todos Irmãos”. Estes programas eram considerados  “imperdíveis “, pois se constituíam uma verdadeira rede de comunicação comunitária, entre as CEBs da cidade e do campo.

2. A CEB rural.

No Acre, as Cebs rurais mantiveram melhor sua identidade, apesar do êxodo rural que marcou o fim de muitas delas. Os padres, as irmãs e leigos missionários e/ou voluntários, dedicaram-se demais, assessorados pela CPT diocesana.
Aí na área rural, desde o surgimento, a Ceb, mais do que na cidade, se identificava com o Grupo de Evangelização.
Num ramal ou beira do rio podem ainda funcionar três ou mais Grupos de Evangelização, mas continuam se chamando cada um de Cebs, ou melhor, de Comunidade, pois infelizmente a expressão “eclesiais de base”, também na zona rural pouco foi usada.
A Ceb rural, formada por membros todos eles agricultores ou seringueiros, proporciona mais facilmente uma evangelização ou catequese inculturada, ligando com mais espontaneidade o Evangelho com a vida comunitária.
Vivendo na mesma realidade social, os membros da Ceb rural enfrentam com mais clareza os problemas comuns, formando associações de colonos, reivindicando seus direitos e lutando pelos objetivos coletivos.
Assim numerosas Cebs rurais, assessoradas pela paróquia ou pela CPT, fundaram associações de Compra e Venda Comunitária, transporte comunitário, açudes e plantios comunitários e outros projetos específicos.
Nestas experiências surgiram muitas lideranças que se destacaram no Sindicato, nos partidos populares e em várias lutas, onde vários deles tombaram como verdadeiros mártires.

1. As CEBs favorecem uma Igreja – Comunhão.

         A Igreja verdadeira é participação à vida divina das três Pessoas da Santíssima Trindade: é um Dom que vem do alto: a Trindade é a verdadeira Comunidade.
         Por isso quem trabalha na Igreja, o agente de Pastoral, antes de organizar qualquer atividade, precisa pedir a Deus o Dom da verdadeira comunhão que se construi de joelho.
         O primado pertence à contemplação: contemplativos na luta, no serviço, na missão. Contemplativos ( contempl – ativos ), para descobrir os sinais dos tempos e as maravilhas que o Senhor fez e está fazendo.
         A CEB é sinal concreto da comunhão e assim nada existe de anônimo, de massa, de indiferência, de descompromisso, de individualismo.
         Na Ceb se vive a comunhão como Dom de Deus para ser partilhado comunitariamente entre irmãos.
         Portanto a paróquia de 20 – 40 mil pessoas deve ser descentralizada em pequenas Cebs, onde é possível se sentir família cristã que experimenta o Amor do Pai e assim fermentar toda a massa humana do bairro. ( Lumen Gentium  ).
         Também a Libertação, bandeira das Cebs, até no sentido mais radical do termo, sempre tende a favorecer a comunhão com Deus, com os irmãos e com a mesma criação.

2.   As CEBs favorecem uma Igreja – Serviço.
Uma Igreja que ama serve. Uma Igreja Comunhão é uma Igreja servidora, como Jesus que veio não para ser servido, mas para servir (Mt 20,28).
As Cebs, espalhadas nos bairros da paróquia, são pequenas igrejas para um serviço concreto de evangelização, de catequese, de preparação aos sacramentos, para a caridade e o compromisso social conforme as necessidades concretas do povo a partir dos últimos e dos mais pobres. ( Gaudium et Spes).

3.   As CEBs favorecem uma Igreja – Missão
A Igreja é por sua natureza missionária. E’ convocada para ser enviada. A paróquia portanto se preocupa de evangelizar aqueles que ainda não conhecem a Jesus como seu pessoal Salvador e Senhor.
A missão não é exclusividade do padre e a Igreja não pode delegar alguns voluntários. Não se pode continuar a evangelizar os mesmos evangelizados, a mesma panelinha de sempre, cada vez mais reduzida. O horizonte da evangelização é muito mais amplo, alcança os becos mais distantes da paróquia e do mundo sobretudo as pessoas consideradas casos impossíveis.
Todos os batizados e crismados são chamados a evangelizar, privilegiando aqueles que por mil razões não andam mais nos caminhos do evangelho ou não reconhecem mais a Igreja como sua família, enfim os que podemos chamar de “os distantes”, as ovelhas perdidas da casa de Israel, que se tornaram a maioria e que vivem na área da nossa paróquia. ( LG, AA, AG).

A NOSSA ESTRADA  TEM  TRÊS PISTAS.

A estrada é por nós já conhecida para se chegar a uma Igreja viva de Comunhão, de Serviço e de Missão.
A nossa estrada já foi construída há trinta anos, em três pistas, mas como todo mundo sabe, no Acre as estradas precisam de manutenção constante. Vejamos.

  1. A Pista da CEB.
Nas nossas regiões a paróquia tradicional não evangeliza mais, nem na cidade nem na área rural. Por isso foi escolhida a evangelização através das Cebs para chegar ao povo anônimo e solto e para fermentar todo o território paroquial.
A Ceb não é movimento, nem uma nova estratégia pastoral: a Ceb é um novo jeito de ser a Igreja de sempre.

a)    A Ceb é uma presença de Igreja com responsabilidade territorial, em comunhão com o pároco e o Conselho paroquial.
b)   A Ceb é uma ramificação da Comunidade Paroquial. Se a paróquia é o tronco, as Cebs são os ramos. Nas Cebs os leigos participam com responsabilidades pastorais, nelas os membros partilham a Palavra de Deus e vivenciam o amor, o serviço e o ardor missionário, em comunhão com seus pastores. (RM n51).
Nas cidades da nossa diocese de Rio Branco, devido ao êxodo rural e ao inchaço populacional dos bairros periféricos, as Cebs se tornaram às vezes miniparóquia e o desaparecimento dos Grupos de Evangelização nestes casos, se tornou cada vez mais desastroso. A ausência dos grupos de evangelização  forma uns verdadeiros buracos, crateras, que exigem um urgente conserto ou reconstrução (operação tapa buracos).


  1. A  Pista dos leigos.

Nesta plantação de Deus, todos somos operários e na Comunidade pode se falar só de ministérios diversificados: padre e diácono com ministérios ordenados, leigos com ministérios instituídos ou na prática reconhecidos.
O leigo não pode mais ser considerado um operário desempregado para ser chamado numa atividade paroquial só nos momentos de emergência ou quando o padre não consegue resolver os problema pastorais sozinho.
Precisa portanto formar os leigos a qualquer custo, pois sem os leigos é impossível evangelizar: os leigos são os protagonistas da evangelização. (CL n.15).
Nas Cebs os leigos são os verdadeiros evangelizadores da base popular, através dos vários ministérios, nos pequenos grupos, nas visitas, nas celebrações, na catequese, nas coordenações das inúmeras pastorais.
Mas não será só dentro da Igreja:  os leigos motivados na fé e no serviço tomam consciência que o campo específico de sua atividade evangelizadora é o mundo amplo e complicado da política, da realidade social, da economia, da cultura e ainda da família, da educação, da saúde....

2.1 Catequese permanente com todos os leigos da CEB.

Os leigos podem estarem a frente de sua missão, se a Ceb oferecer uma formação cristã adulta através de uma catequese permanente. Ao contrário enfraquecem, se desmotivam, se decepcionam e abandonam.
Nisso a diocese e a paróquia devem cooperar a formar os formadores ( Cursos para multiplicadores), inclusive com Cursos de Teologia, Cursos Bíblicos, Escola para Ministros etc.
A caminhada das CEBs já deu os critérios básicos da Catequese permanente com adultos através da qual conhecem e amam a Bíblia, são chamados a construir a Comunidade e a servir o povo. O método da Catequese é já bem conhecido: Ver, Julgar e Agir. Sucessivamente aumentaram com Celebrar e Avaliar.
Em várias regiões esta catequese se diversificou só nas palavras, por ex. usando verbos do evangelho:
Vem! Isto é o Chamado, a Vocação: Deus chama a si e chama aos irmãos a à realidade em que se vive com seus problemas religiosos, sociais e políticos que devem ser conhecidos e interpretados.
Segue-me, isto é, a Conversão. E’ ser discípulo. A conversão para os membros da Ceb significa não só conhecer e abraçar a proposta de Jesus, mas também conhecer e abraçar as exigências dos homens e das mulheres que vivem no nosso meio e enxergá-las ou julgá-las com os olhos de Jesus, o Mestre. Portanto é necessário se converter à Pessoa de Jesus, o Senhor e através dele aos irmãos mais pobres.
, isto é a Missão que cada membro da Ceb é chamado a exercer seja na Igreja, seja na Sociedade. E’ ser apóstolo, é agir com os irmãos excluídos, lutando, sofrendo e crescendo juntos em vista da libertação integral.


  1. A Pista da Realidade Social.

E’ outra pista da estrada que exige constante manutenção e atenção. As Cebs sempre tentaram na medida do possível, se espalhar por todos os bairros e zona rural, até os centros dos seringais, levando a paróquia a conhecer r a assumir todas as necessidades humanas que acompanham a vida do povo, a partir dos mais pobres.
 A paróquia se torna pelas Cebs, mais humana, fraterna e acolhedora, um foco de evangelização e de promoção humana, uma verdadeira “fonte do povoado”, como amava dizer o papa João XXIII.
A paróquia para evangelizar no território, na sua realidade (bairro, ramal, beira do rio), precisa conhecer, partilhar e agir.

a)   Conhecer.
A CEB deve conhecer todos os moradores, o nível de sua religiosidade e de sua mentalidade (cultura). Deve conhecer os serviços públicos e particulares que aí existem, o que não existe, as urgências... Uma tarefa das Ceb é elaborar “o mapa das necessidades do território”.

b)   Partilhar.
A CEB precisa caminhar com o povo, isto é:
-          Acompanhar as situações de pobreza, estudando as possíveis soluções.
-          Lutar para que a Administração pública leve em conta os problemas mais urgentes, denunciando eventuais responsabilidades.     
-          Promover o voluntariado.

c)   Agir.
-          A CEB tem o ardor missionário para alcançar todos os habitantes do território. Se não conseguir isso, risca de perder uma parte de sua identidade. 
-          A CEB favorece o surgimento de pequenos grupos nas casas ou até nos ambientes
     de trabalho, verdadeiros centros de evangelização,  e promoção humana.
-          A CEB ajuda a clarear a vista sobre as causas dos males que afligem o povo, mas também tenta intervir na medida do possível para encaminhar ou procurar soluções sobre as conseqüências.

AS CEBs ENCONTRAM DESAFIOS, EMPATES E DIFICULDADES.

         Se não houver constante assessoria, troca de experiências, avaliações entre as Cebs, atenciosa preparação e participação aos intereclesiais e capacidade de ler os sinais dos tempos, com docilidade ao Espírito,  esta caminhada bonita corre o risco de se enfraquecer e se desatualizar. Eis a seguir algumas pedras que surgiram no caminho:

-          Crescimento populacional dos bairros e crescimento conseguinte da demanda das atividades religiosas.
-          Poucas lideranças preparadas para assumirem os ministérios tradicionais e os ministérios novos que deveriam ir ao encontro dos novos problemas.
-          Desconhecimento dos Documentos da Igreja , inclusive da Doutrina Social.
-          Críticas e abandono da classe média.
-          Abandono dos mais pobres que se refugiaram nas seitas.
-          Falta de espiritualidade específica que sustentasse os membros das Cebs em seus conflitos.
-          Incapacidade de acompanhar e de apoiar lideranças que se dedicaram na política, nos encargos públicos, no complexo mundo da cultura ou nas lutas às vezes traiçoeiras dos sindicatos. Muitas destas lideranças se perderam porque ficaram isoladas ou porque dispensaram a avaliação da Ceb.
-          Valorização exagerada do coletivo econômico, com prejuízo do pessoal, do familiar, do gênero e do racial.
-          E sobretudo, pouco zelo em cultivar sua própria identidade de CEBs.



ALGUMAS BARREREIRAS A SE SUPERAR.

1.   As CEBs e os movimentos.

A Ceb perde a sua identidade quando entra em competição com os movimentos, pois ela não é movimento: a Ceb é um novo jeito de ser Igreja para acolher e envolver experiências novas, idéias novas, propostas novas que surgem ao longo da caminhada para somar força em plantar esperança no coração do povo mais sofrido.
     Os Movimentos representam um fenômeno religioso na Igreja após o Concílio Vaticano II. São definidos como “esperança, uma primavera da Igreja” e para muitos são ajuda preciosa para uma vida coerente às exigências do Evangelho e para um compromisso missionário e apostólico (CL 29)
     São agregações de leigos, procurando viver o valor evangélico de comunidade, com referência constante aos Atos: oração comunitária, mútua ajuda em situações de necessidade, partilha dos bens espirituais e às vezes dos bens materiais e sobretudo há a partilha sincera da experiência pessoal de fé e de compromisso eclesial e social.
     O Magistério eclesial sempre insiste que os Movimentos não deixem de unir fé e vida, oração e testemunho, apostolado e compromisso social.
     De qualquer forma, os frutos dos Movimentos não podem ser negados: adultos, idosos e numerosos jovens, então afastados da Igreja, se aproximaram da fé, da oração, do caminho de conversão, do apostolado, da animação de seu bairro. E o que está acontecendo hoje é que muitos descobrem sua vocação e sobretudo os jovens amadurecem sua vocação  cristã e até ao sacerdócio, à vida religiosa ou consagração secular, graças aos Movimentos.
     A Paróquia com suas CEBs deve evitar que haja caminhos paralelos no trabalho pastoral. Para isso acontecer, a mesma não pode ser estruturada na forma piramidal, mas como “rebanho”, “povo de Deus”, “campo”, “vinha”, casa e família. (LG 6), para ser lugar de acolhida e de animação de todas as expressões que venham somar forças.
     Claro que o pároco, com seu Conselho Pastoral, terá o grande ministério da animação e da coordenação de todos os ministérios leigos, sempre atento que a liturgia una fé e vida, a catequese seja permanente e a ação caritativa vise a promoção humana e a libertação integral. E o que é mais importante é Ter claro o Projeto Pastoral, com que a diocese inteira, as paróquia, as Cebs e Movimentos, andam juntos, tentando alcançar a mesma meta de uma Igreja Comunhão, Serviço, Missão e Santificação.

Erros de alguns Movimentos diante da Paróquia.

-          Servir-se da paróquia e não servir a paróquia.
-          Assumir serviços pastorais em próprio, desarticulados e independentes.
-          Achar que sua vivência cristã seja a única e a verdadeira.
-          Não valorizar o Plano Pastoral da Diocese.



     PRINCIPAIS MOVIMENTOS E SERVIÇOS NA NOSSA DIOCESE.
        
Os Movimentos trazem consigo a riqueza de um carisma e de uma espiritualidade que podem animar toda a Paróquia, formar pessoas que se coloquem a serviço das pastorais ou que saibam dar seu testemunho nos mais diferentes ambientes sociais, não só no bairro, mas também nas repartições públicas, escolas hospitais, oficinas...).
         São forças para despertar com seus carismas particulares, para renovar a vida pessoal e por conseguinte suscitar nas paróquias comunidades vivas.     


1.   Os Focolares: “Paróquias Novas”.

O Movimento dos Focolares tem como programa fundamental o de construir e realizar com testemunho pessoal e comunitário, a unidade que Jesus pediu ao Pai antes de morrer: unidade na Igreja e unidade como exigência universal de toda a humanidade. Chiara Lubich, de quem foi a fundadora, ampliou o movimento em vários setores: Humanidade Nova, Famílias Novas, Jovens para um Mundo Unido, Crianças para a Unidade, Paróquias Novas.
     Com o Movimento “Paróquias Novas”, os Focolarinos visam reavivar a paróquia, animando-a com o carisma da unidade para se tornarem comunidades em que esteja presente Cristo ressuscitado no meio do se povo.
     Eis as características de uma Paróquia Nova almejada pelos Focolares:

1.    Uma paróquia Reino dos Céus, onde se toma consciência que o ressuscitado esta presente.
2.    Uma Comunidade sendo um Evangelho vivo que atrai pelo testemunho.
3.    Uma Comunidade renovada pelo amor.
4.    Uma Comunidade aberta ao diálogo e ao ecumenismo.
5.    Uma Comunidade missionária e aberta à humanidade.


2. O ECC, Encontro de Casais com Cristo.

    O ECC é um grande Dom que o Espírito Santo ofereceu à Igreja do Brasil, após o Concílio Vaticano  II. E´uma verdadeira genialidade pastoral e pela nossa experiência, as paróquias se reavivaram, aumentou o número dos leigos, sobretudo homens, co-responsáveis nas mais diferentes pastorais.
Os casais que vivenciaram o ECC, continuam sendo paroquianos, abertos agora ao serviço da paróquia: só basta o pároco e o Conselho paroquial apresentar propostas de serviço.
Realmente o ECC é um serviço da Igreja para evangelizar a família e para despertar os casais para as pastorais paroquiais, devidamente integrado na Pastoral de Conjunto da diocese.
O ECC deve ser desenvolvido em três etapas distintas, indispensáveis, e inter-relacionadas entre si, cada uma com características e finalidades próprias.
·         A primeira etapa é o Encontro evangelizador e missionário. É o despertar, é o chamamento aos afastados ou aos desmotivados.
·         A segunda etapa é o Reencontro, catequético, é o aprofundamento, uma proposta de compromisso, usa a reflexão e é para os engajados e para os que desejam se engajar.
·         A terceira etapa é o Compromisso, transformador, é para os que buscam mudar as estruturas injustas de nossa sociedade.
O Encontro de Casais com Cristo não é um movimento. Não visa prender a si os casais, nem os casais devem querer ficar presos ao ECC. O ECC apresenta-se como um SERVIÇO DA IGREJA ÀS FAMÍLIAS DA PARÒQUIA.
O serviço de Pastoral Familiar do ECC é essencialmente paroquial. Esta é a sua característica fundamental.
Quer ser um instrumento, um meio, uma etapa, uma passagem. Ele convida o acomodado, desperta-o, ama-o, mostra-lhe o caminho do engajamento, motiva-o a assumir, e dá-lhe, por meio das pastorais, sustentáculo para um comprometimento fraterno. Toda essa motivação tem como base romper o isolamento, aproximar desconhecidos, criar laços de amizade e suscitar fraternidade. A meta não é o ECC. O ECC é a ponte. A meta é o Reino de Deus em todas as paróquias. Ninguém deve ficar preso ao ECC. Pelo contrário, leva a assumir sua família plenamente, a co-responsabilidade eclesial e o testemunho de honestidade no trabalho.
Portanto os Casais não se filiam ao ECC; eles são servidos pelo ECC, mas continuam paroquianos, sob a orientação do Pároco, do Conselho Paroquial e das Pastorais Diocesanas. O ECC é uma passagem, uma oportunidade de abrir consciência.
Como serviço da Igreja, o ECC coloca-se na perspectiva evangélica: serviço humilde, generoso e alegre de discípulos de Jesus Ressuscitado, portadores da Boa Nova do Evangelho.
O ECC é ainda um serviço que procura apresentar aos casais uma visão de Igreja, por meio de seus Documentos e Encíclicas e de sua Doutrina Social.
Não é missão do ECC organizar frentes de atuação. O ECC chama ‘a vivência conjugal, familiar, eclesial e ‘a responsabilidade sócio – política o casal acomodado, desorientado, e por vezes destruído. Agora cabe aos outros organismos capitalizar as forças disponíveis, as mentes abertas para assumirem e enfrentarem as carências humanas, ajudando cada um a viver seu carisma, e a Igreja será esse corpo sonhado pelo Espírito de Deus e a humanidade verá dias melhores.
Em todo serviço do ECC, uma verdade é fundamental: o homem é apenas um instrumento. E´Deus quem converte e muda as pessoas. Somos apenas servidores de Deus. ( Veja o Documento Nacional do ECC).

As palavras do Pe. Afonso Pastore, fundador do ECC.

    “ Na Igreja do Brasil nunca se tiveram tantas prioridades, nunca se fizeram tantas reuniões, nunca se tiveram  bispos  tão especializados como agora e cercados de assessores especialistas. Nunca se afirmou tanto a opção pelos pobres e o povo nunca esteve tão abandonado em termos de evangelização como em nossos dias. E os pobres mais pobres estão com os “crentes”.
O ECC seja visto como esforço ingente que surgiu das bases, um apelo de todos os recantos do Brasil...Sirva, isto sim, para discernir onde está a vaidade humana e pela força da oração elimina-la, para que volte o ECC ‘a simplicidade, pobreza, oração, doação gratuita e alegria, que é fruto do amor de Deus no coração e na vida do Casal.
Que cada Regional possa aplica-lo  à  sua realidade e cultura. Que ajude a integrar-se nas CEBs e levar a elas o  testemunho do amor conjugal, da força transformadora do Sacramento do Matrimônio.
Que na Paróquia possa acolher todas as classes e dar testemunho de fraternidade a partir da vocação – o Matrimônio. Junto com a Renovação Carismática, é o único serviço da Igreja que pode dar este testemunho de fraternidade.
Que a Teologia da Libertação seja assumida na dimensão do amor e do respeito à pessoa humana. Deve-se destruir a estrutura e a lei injusta ou iníqua, mas amar o irmão que mantém a estrutura, para converte-lo.
Jesus aceitou ser destruído, mas Ele não destruiu ninguém. A Virgem Maria proclama que o Senhor derrubará  de seus planos os poderosos, mas ela não derrubou ninguém.
A dimensão da luta contra as estruturas injustas e o amor ‘as pessoas, os casais os conseguirão na reflexão da Palavra, no estudo dos Documentos da Igreja, na partilha de testemunhos e no silêncio da escuta.
Nesse campo tão necessário para que se torne possível o mínimo de condições de vida de uma parcela ponderável de casais, é necessário seguir a pedagogia de Deus.
Deus cativa aos poucos e não violenta ninguém. A conversão é um processo que necessita da Comunidade, da Oração e da Palavra. E ao se tratar de casais, o engajamento produtivo e santificador há de ser feito sempre a dois.
Há necessidade do amadurecimento de cada uma das etapas para levar os casais a assumirem a terceira: a Justiça Social como opção que nasce de sua realidade de leigos e não como imposição.
O ECC é algo incorporado ‘a vida da Igreja. A ela cabe alimenta-lo, poda-lo e difundi-lo.       



3. RCC, Renovação Carismática Católica

O Relatório da reunião da equipe de articulação das Cebs do Regional Norte 1B, atual noroeste  em 09 de março deste ano 2001, afirma que: “A prática da espiritualidade nos impulsiona a buscarmos uma comunhão com os movimentos, de modo especial com a RCC, aprendendo com eles a nos enriquecermos no sentido espiritual e ao mesmo tempo a desafiá-los para um maior empenho e compromisso, somando força com as Cebs e outros organismos, na transformação da realidade social injusta e desumana que nos envolve. Buscamos, em primeiro lugar e acima de tudo, o Reino de Deus.
O mesmo Clodovis Boff, de quem aproveitamos as seguintes reflexões, diz que a RCC e a TdL estão entre os processos mais dinâmicos da Igreja de hoje, vale a pena enfrentar sua relação de forma clara e decidida.
A verdade é que o movimento carismático já dura um século. Talvez represente um dos movimentos revivalistas mais longos da história da Igreja. Pelas proporções mundiais que atingiu (e com velocidade impressionante) e mais ainda por sua duração, esse fenômeno não parece ser apenas um “surto” passageiro ou conjuntural, mas um “fenômeno orgânico” ou estrutural. A RCC, assim como outros movimentos afins, respondem a demandas de sentido, de identidade e de experiência religiosa, que além de agudas, são extremamente difusas na sociedade de hoje.
A Renovação parece mesmo que veio para ficar. Por isso, seria inútil reprimi-la. O que se pode e se deve fazer é apenas direcioná-la na linha correta.....
O Clodovis, continua dizendo que a posição do Magistério manifestou sua aprovação desde cedo, seja o Papa Paulo VI, que a chamava “obra misteriosa do Espírito” e “sinal autêntico da ação do Espírito Santo”, seja João Paulo II: “ chance para a Igreja e para o mundo”, e pede aos sacerdotes ”uma atitude positiva” para com a RCC.
A CNBB em 1994 divulga o documento 53, n 15, “Orientações Pastorais sobre a RCC”. Este texto declara que entre os “frutos do Espírito”, como as Cebs, a Igreja no Brasil pode contar também a RCC.
Entre os teólogos brasileiros, Clodovis lembra que o irmão Leonardo Boff, depois das severas reservas que expressou frente à RCC no fim dos anos 70, qualifica hoje a RCC como “novo modo de ser igreja” e prevê que “será seguramente uma expressão singular do Cristianismo do século XXI. Mas deverá, segundo ele, incluir com mais decisão a questão da justiça, da dignidade humana, do Sagrado da Criação, para ser genuinamente cristão”.

Méritos da RCC segundo Clodovis.

         ......Poderíamos resumir os efeitos da RCC com estas duas palavras: experiência e pertença: experiência espiritual e pertença comunitária. Detalhando podem-se elencar estes pontos positivos:
·         O reavivamento da fé e da graça batismal, com a retomada dos sacramentos e o reencontro com a vida cristã em geral.
·         A conversão pessoal, expressa na transformação moral da vida pessoal, familiar e profissional.
·         A redescoberta do Espírito Santo e de seus dons, recuperando os carismas extraordinários: a profecia, as curas e especialmente a glossolalia (também em forma de oração e de canto), elementos que, com o louvor, estão entre as  práticas distintivas da RCC.
·         O reencontro com Jesus Cristo, proclamado como Senhor e Ressuscitado.
·         Novo gosto pela oração, que flui livre e espontânea, especialmente a oração de louvor, rompendo com a rigidez da oração tradicional na Igreja latina.
·         O resgate da emoção, expressa nos cantos e gestos, seja nos grupos, seja nas manifestações de massa.
·         A participação dos leigos, que possuem, no movimento, papel ativo e mesmo diretivo, animando assembléias orantes, dirigindo exortações, dando palestras, dando bênção de mãos estendidas, fazendo orações de libertação.
·         Amor à Igreja e a seus pastores, cujo ministério sacramental e direção espiritual são muito apreciados.
·         O relançamento da missão e do apostolado, não tanto para “batizar os convertidos” quanto para  “ converter os batizados”.
·         Um reforço da identidade católica, com o apreço de suas marcas características, as    “três devoções brancas”, a saber: a Eucaristia, a Virgem e o Papa.
·         O surgimento de vocações para os ministérios “leigos”, para os ordenados e para a Vida Religiosa.
·         Proposta de uma alternativa eficaz da Igreja católica face à atração das “novas igrejas”.
·         Incentivo à vida comunitária, seja na forma dos “grupos de oração”, seja na forma das “comunidades de aliança”......

Mas há algo mais. Nos últimos anos tem-se falado muito sobre ...pastoral urbana, pastoral de massa, pastoral de classe média, pastoral da mídia etc.
Pois bem, a RCC, sem muitos seminários e sem maiores programas...está respondendo a estes desafios: consegue falar ao “homem urbano”, tanto às classes médias desorientadas como aos excluídos........sabe falar ao coração do “homem pós-moderno”, sequioso de experiência religiosa e necessitado de um sentido para a vida.

Limites da RCC segundo Clodovis.

         O próprio Magistério episcopal tem alertado sobretudo para três destes limites:

1.   Tendência ao paralelismo pastoral.
Segundo Clodovis, a RCC  se insere com mais facilidade na caminhada da  Igreja Universal através da ligação com o Papa, do que com a caminhada da Igreja local.
     Em algumas dioceses, tem havido tensões e mesmo conflitos abertos, especialmente entre a RCC e as CEBs, com fechamentos recíprocos, em que escassearam o diálogo e o espírito fraterno, e prevaleceram os confrontos, às vezes muito duros. Paróquias e – coisa mais grave – Pastores, que deviam ser os servidores de todos, sem distinção, se alinharam inflexivelmente com os “carismáticos” ou então com as CEBs, dificultando a comunhão com outras expressões eclesiais, igualmente legítimas.
     E continua: O “carismático” não deveria tanto dizer a um membro das CEBs: “Entre na Renovação”, mas: “Seja carismático nas CEBs”. O mesmo deveriam fazer as CEBs em relação à RCC: “Seja libertador na RCC. Seja como for, não há nenhuma necessidade interna para que uma Comunidade ou Movimento de Igreja se feche aos outros modos de ser cristão.

2.   Emocionalismo.

...Se a emoção pode ser uma boa companheira de fé, ela não pode se transformar em guia. E´caminho, não fim. O extraordinário – categoria inegável da pneumatologia – não pode se transformar  no extravagante, ao preço de deixar de ser “ espiritual”, para entrar no campo do desvio, ‘as vezes patológico....




3. A falta de compromisso social.


...Mas estaria a RCC, na prática, fechada ao trabalho social? Não parece, a se examinarem suas estruturas organizativas. Possui duas secretarias que se ocupam com a ação social: a “Secretaria Marta”, que trabalha com a promoção humana, e a “ Secretaria Matias”, que trata do compromisso político na ótica da Doutrina Social das Igreja. Há também trabalhos sociais levados adiante pelos Carismáticos em vários lugares, sobretudo obras de caráter assistencial e promocional...
   
Confronto entre RCC e CEBs.

    Sem dúvida, as duas correntes mais dinâmicas da Igreja de hoje são a RCC e a Teologia da Libertação. Elas se apóiam em duas espiritualidades distintas, embora complementares. Vejamos aqui os pontos de confronto segundo os acentos (não as exclusividades) de uma e de outra corrente:

Renovação Carismática                            Teologia da Libertação

  1. Vive a fé como experiência                   Vive a fé como prática
  2. Enfatiza a oração (relação teologal)      Enfatiza o serviço ( ética e política)
  3. Busca a transformação pessoal             Busca a transformação social
  4. Dá importância ‘a emoção                    Dá importância à reflexão
  5. Faz opção pelos “perdidos”                  Faz a opção pelos pobres
  6. Está centrada na Igreja                       Está centrada no Mundo
  7. Liga-se à Igreja Universal                    Liga-se à Igreja local
  8. Visa a afirmação social da Igreja           Visa a renovação institucional da                                                         Igreja.

...Se os carismáticos podem ensinar aos libertadores o que é uma espiritualidade vivenciada com entusiasmo, gratuidade e espontaneidade, os libertadores podem ensinar aos carismáticos as mediações teóricas (consciência crítica) e práticas (meio de luta coletiva) que, como vimos, são absolutamente necessárias, na sociedade moderna, para instaurar relações de justiça e igualdade.
    Só uma mentalidade pequena vê contradição lá onde um espírito maior vê complementação....
    Arrancando de perspectivas diferentes e às vezes sem perceber ou confessar, a RCC e a TdL estão se aproximando uma da outra. A RCC partiu da transformação pessoal e está descobrindo  a necessidade da transformação social, enquanto os “libertadores” partiram do social e redescobrem o pessoal..No IX Intereclesial em São Luiz em 1997, as CEBs declararam expressamente: “Precisamos vencer certos preconceitos...dentro da Igreja católica em relação à Renovação carismática”.


AS CÉLULAS PAROQUIAIS DE EVANGELIZAÇÃO.

         Quem já trabalhou nos grupos de evangelização, poderá descobrir facilmente as diferencias, as semelhanças e, sobretudo o mesmo projeto de evangelização missionária para alcançar os ambientes mais distantes das periferias.

1. Como nascem as Células.
         O sistema das Células Paroquiais de Evangelização prevê que o nascimento das mesmas não seja simultâneo, mas aconteça por multiplicação:

a) Durante seis meses, nas homilias, na catequese, ordinária, nas pastorais existentes, se fale da missão evangelizadora da Comunidade e de cada batizado, do anúncio aos afastados, da procura dos últimos. Sobretudo se a paróquia não estiver acostumada a isso.

b) Formação de uns 50 evangelizadores com uma preparação de seis semanas, tendo duas horas semanais de ensinamento.
c) Formação de Células provisórias com 10 – 12 membros (os que participaram da formação), durante três meses, calculadamente.
d) Início da missão das Células, cada membro evangelizando os familiares, os vizinhos, os colegas, os amigos (evangelização oikos, de ambiente, pessoa para pessoa) conforme o método dos quatro eixos da evangelização: serviço, diálogo, anúncio e testemunho.
e) Multiplicação da Célula quando esta tiver alcançado uns doze membros atuantes.
2. Uma verdadeira e permanente Missão Popular.
  
   Todo este processo se parece com uma verdadeira missão popular, onde o importante é o Pós Missão, para recolher os frutos que permanecem.
    Este processo não é simplesmente uma missão ao povo, mas é um povo em missão. Não é uma missão para a paróquia, mas é a paróquia em estado de missão permanente. Veja:
1o Tempo: Pré - Missão
a)    Preparação de seis meses na paróquia divulgando à Comunidade em geral o Mandato de Jesus sobre a Evangelização. (1 a) Enquanto isso, escolhem-se os evangelizadores – monitores – animadores – líderes –coordenadores ( a terminologia pode ser escolhida), das futuras Células.
a)
a)b) Preparação dos evangelizadores durante dois meses ( 1 b)
a)c) Formação das Células provisórias durante três meses. (1c)
2º Tempo: Missão:  Início da Missão através das Células (1 d)
3º Tempo: Pós Missão: Multiplicação das Células sem prazos  (1 e).
3. Como acontece a Evangelização através das Células.
A Célula é uma escola de evangelização a ser realizada não dentro da Igreja, mas lá fora, pois os membros da Célula aprendem a evangelizar no próprio ambiente, na rua em que cada um mora, no lugar onde trabalha : ali ele  enquanto está cumprindo suas ocupações diárias, evangeliza todas as pessoas que encontra no seu caminho. (Mt 10, 7-8)
A Célula é uma pequena escola de evangelização, pois aí num clima de oração se avalia o trabalho de evangelização da semana que finda  e se prepara uma nova semana de evangelização “pessoa para pessoa”, “Corpo a corpo”, não dentro da Célula, mas lá fora, no oikos ou no ambiente em cada um vive.
A Evangelização que se pratica é conforme os ensinamentos do Magistério, a partir da “Evangelii Nuntiandi”e atualmente das Diretrizes da ação evangelizadora da Igreja no Brasil Doc. 61: evangelizar de maneira inculturada, através do serviço, do diálogo, do anúncio e do testemunho.

4.   Como descentralizar a CEB que virou Miniparóquia.
 A proposta é a da retomada da evangelização através dos pequenos grupos nas casas, nos ambientes de trabalho, sendo escolas de evangelização “pessoa para pessoa”, como local de catequese permanente, vivenciando os quatro eixos : Serviço, diálogo, anúncio e testemunho.
         A Célula não prende os membros, pois deve se manter o pequeno grupo de quatro a doze membros ao máximo. A solução é a multiplicação.
         A Célula faz parte do corpo que é a CEB e a Paróquia, da qual recebe os conteúdos para a reflexão e à qual comunica os problemas religiosos e sociais encontrados por Ter vivência na base.
         A Célula tem uma característica prevalentemente querigmática, isto é, de primeiro anúncio, mas acolhe através deste filtro, temas de catequese permanente, como o do “Catecismo da Igreja Católica”, os da Campanha da Fraternidade, Atos dos Apóstolos e os demais apresentados pela Diocese ou Paróquia.
         A Célula prepara o participante a se engajar na CEB e na Paróquia: este é o último passo da evangelização praticado na Célula, quando consegue entregar os próprios membros no barco paroquial.
         Se o ingresso de um irmão na Célula é uma alegria, se a multiplicação de uma Célula é uma festa, o engajamento de um membro na CEB ou na paróquia é um verdadeiro Júbilo.
De fato, a CEB é o corpo do sistema celular, onde há a celebração dominical, a proclamação da Palavra, a Eucaristia, local onde se abre uma visão mais comunitária e social da fé e um conhecimento mais amplo dos problemas do bairro, onde há mais propostas, experiências espirituais, engajamento pastoral e social, assunção de ministérios oficiais, comunhão com as outras  CEBs,  paróquias e diocese.
Enfim, Célula solta, autônoma, independente, é Célula cancerígena, destinada a morrer sem dar frutos, pois a mesma precisa ser bem enxertada nas CEBs.



5. CEBs e Células.

Uma paróquia de 10 mil habitantes, cinco CEBs e trinta pequenos grupos nas casas, com mais facilidade consegue viver a Comunhão, o serviço e a Missão.
A Comunidade deve ser pequena, a medida humana, para cada participante ser valorizado e valorizar o outro como pessoa.
Hoje a evangelização se realiza através do serviço (amizade), do diálogo pessoal, do anúncio e do testemunho pessoa para pessoa. Sem isso a paróquia corre o risco de se afundar no anonimato , na frieza burocrática, onde o pastor não tem mais tempo nem de sair de seu escritório.
Hoje a situação piorou nas nossas cidades, pois as paróquias chegam até 40, 50 mil habitantes  e suas CEBs, cada uma agora com 4 ou 5 mil pessoas na área, se tornaram miniparóquias, enquanto os grupos de evangelização perderam seu impulso e morreram.
A CEB precisa urgentemente ser descentralizada em pequenas comunidades que, como vasos capilares entrem nas ruas e nos becos dos nossos bairros e quem sabe, até nos ambientes de trabalho, escolas, hospitais, repartições públicas.
Estes pequenos grupos podem ser chamados de Células de evangelização, para dar vida nova às CEBs pela espiritualidade, pela criatividade, pela garra missionária e pela alegria que entrará aos poucos no coração do povo, quando se sentir valorizado no trabalho pelo Reino.
O sistema de Células não  é um movimento, mas faz parte viva e orgânica da CEB, como a CEB faz parte viva e orgânica da paróquia e esta da diocese.
Mas a Célula não poderá ser a solução única da CEB, pois não todos entrarão nas Células e é para estes últimos que a CEB continuará pensando, pois a boa nova de Jesus deverá alcançar e libertar todos os homens e as mulheres daquele território.
Assim a CEB levará em frente uma pastoral popular, marcando presença de outras formas e com outras forças, em todo lugar e em todos os acontecimentos que dizem respeito aos interesses do povo mais humilde: escolas, hospitais, presídios, comércio, movimentos populares , envolvendo famílias, noivos, jovens, idosos, dependentes químicos, desempregados etc.., para que todos sejam evangelizados e se tornem evangelizadores.

A importância das Comunidades e grupos de reflexão.
 Doc. 66 da CNBB, “Olhando para frente”.
    O pequeno grupo é necessário para a maior liberdade de expressão e criação de laços, porém é importante que cada pequeno grupo se sinta comunidade junto com os outros grupos e com a Igreja maior, assim como é importante que cada Igreja local esteja aberta para a missão universal e para o diálogo com outras Igrejas e religiões. Por isso, o Projeto sugere várias formas de partilha comunitária. Nisso verificamos uma indicação preciosa de Paulo e do Livro dos Atos dos Apóstolos: a “igreja doméstica”, a Igreja nas casas, a pequena comunidade que se reúne na casa de um irmão, algo parecido com nossos “grupos de rua” de hoje.
O projeto SINM quer, uma vez mais, investir profundamente nas comunidades e grupos de reflexão como meios mais eficazes da sustentação da mística necessária para o cristão dos dias de hoje”. 


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