EVANGELHO DE MATEUS

EVANGELHO DE JESUS CRISTO SEGUNDO MATEUS.
Chamava-se Levi e provavelmente foi Jesus que o chamou de Mateus. (Mt 9,9).  Profissão Publicano. (Mt 10,3)
  1. A COMUNIDADE QUE MATEUS ANIMAVA.
O Evangelho atribuído a Mateus não surgiu num dia só e muitas pessoas tiveram participação. Foi a Comunidade de Mateus que escreveu este Evangelho. Era uma Comunidade situada ao norte da Galiléia e que estava passando muitas dificuldades.
Quais as dificuldades desta comunidade?
- No ano 70, o Império Romano destruiu  o Templo e a cidade de Jerusalém. Desapareceram os Saduceus, os zelotes e os essênios. Sobraram os fariseus e os escribas que se chamaram de rabinos e organizaram as sinagogas. Os judeu-cristãos  em boa parte se espalharam, inclusive no norte da Galiléia, nas montanhas do Golan, perto da Síria. Os judeu-cristãos eram acusados de ter abandonado e traído a fé fundamentada na revelação do AT e por isso teriam sido a causa de tamanha destruição.
A Comunidade era formada por pessoas refugiadas por causa desta guerra dos Romanos. Vieram em busca de terra e de sobrevivência, mas passaram anos de miséria. Eram em sua maioria trabalhadores diaristas que nesta época de desemprego eram explorados nas fazendas. Havia quem conseguisse pequenas propriedades. Havia artesãos. O não pagamento das dívidas gerava escravidão e cadeia (18,25-34), Por causa do desemprego e da fome apareciam muitas doenças (4,24). Havia muita insegurança e preocupações pelo dia de amanhã (6,25-31) Alguns não agüentam, ficam perturbados, parecendo loucos, como que possuídos pelo demônio (8,28) São os demônios da exploração, da marginalização, da ganância que estragam a vida do povo. Há muita gente perturbada assim ( 8,31; 10,8; 12,24; 17,18)
- No ano de 75, no povoado de Jâmnia se reuniram os restantes escribas e fariseus e reformaram a religião de Israel, radicalizando a Lei do AT, definiram as práticas religiosas e a Lista dos Livros Sagrados (Cânon), tirando os livros escritos em grego, conforme a tradição dos Setenta.
- os Rabinos expulsaram e condenaram todas as correntes religiosas contrárias aos ensinamentos dos fariseus, sobretudo os judeu-cristãos que eram os judeus que tinham aceitado Jesus de Nazaré como o Messias esperado. Eram os cristãos, chamados de Nazireus. Formularam até uma oração que dizia: “Que não haja mais esperança para os apóstatas. Que pereçam de imediato os Nazireus, os hereges, e que seus nomes sejam cancelados do livro da vida e não sejam inscritos no livro dos justos. Louvado sejas, ó Deus eterno, que destróis teus inimigos e rebaixas os orgulhosos”.
- Outra medida tomada pelos rabinos dizia respeito aos livros sagradas. Eles proibiram o uso nas sinagogas da tradução dos livros sagrados em grego, conhecida como “Setenta”. Só aceitaram os Livros normativos, ou seja, dentro do Cânon, os livros cujos originais estivessem na língua hebraica. Ora esta Bíblia em grego sempre tinha sido usada pelas comunidades cristã se, da mesma maneira, os cristãos continuavam a considerar sagrados todos os livros existentes nesta Bíblia.  Como mudar uma Bíblia usada já há muito tempo?
O fanatismo tomava conta das sinagogas.


  1. A RESPOSTA DA COMUNIDADE: O ESCRITO DE MATEUS.
Nesta Comunidade, mergulhada na crise de rejeição, surgiu um escrito garantindo que de fato Jesus era o Messias. Era o Emanuel, o Deus conosco, até o fim dos tempos. (Mt 28,20)
O Evangelho ficou pronto pelos anos 85-90 e era destinado às Comunidades formadas por judeu-cristãos que viviam no norte da Galiléia e que já se chamavam de “ Igreja” ( Mt 18,17)
Três barreiras que enfrentavam:
- O Império Romano era pagão, tinha destruído a cidade e o templo de Jerusalém e vivia um período de esplendor e começou a perseguir os cristãos considerados uma ameaça. Nero foi o primeiro imperador a perseguir a Igreja, em seguida foi o imperador Domiciano (Ap. 18,24) (Seria a recompensa por tanta violência?)
- A cultura greco-romana, chamada de helenismo, ocupava todos os espaços e a proposta do cristianismo era considerada de baixo valor cultural, isto é, algo que não tinha nenhum valor, próprio de analfabetas.
- Por causa de Jâmnia, viver a fé em Cristo passou a ser considerado um crime religioso
A organização destas Comunidades.
Estas comunidades onde Mateus estava participando e animando demonstram já um certo grau de organização, como celebrações e serviços.
Tinham o Batismo (Mt 28,19), a Eucaristia (Mt) 26,26-30) a reconciliação (Mt 18,15-17), o poder de perdoar os pecados (Mt 16,18-20), de curar (Mt10,1) e de proclamar a Boa Nova do reino (Mt 10,7). Todos assumiam suas responsabilidades com humildade e espírito de serviço. (Mt 18,4; 20,26-28)
Problemas e tensões nestas Comunidades de Mateus.
a)      Medo, abandono dos irmãos, por causa das perseguições e ameaças (13,21).
b)      Traições, infidelidades, desvios, ódio entre irmãos, falta de perseverança (24,9-13)
c)       Incoerência entre o discurso e a prática.
d)      Cobiças, ganâncias acúmulo injusto do dinheiro, acreditando que assim se pode servir a deus (6,19-26)
e)      Muita confusão sobre Jesus (11,19; 16,13-23)
f)       Convivência difícil entre irmãos das comunidades (5,22).
g)      Dúvidas sobre o seguimento de Jesus (8,18-22).
h)      Desânimo por não ver futuro na caminhada das comunidades (13,31-32)
i)        Impaciência, até alterar os ânimos, com os que erravam )13,24-30; 36-43)
j)        Celebrações vazias, sem reconciliação (5,23-24)
k)      Escândalos (18,6) e falta de perdão nas comunidades (18,21-22)
l)        A mentalidade dos fariseus penetrando nas comunidades (16,5-12)
Havia também outro problema sério, pois algumas pessoas se apresentavam como profetas e messias enviadas por Deus. Na realidade eram pessoas falsas e maldosas, gananciosas e com coração cheio de cobiça e sede de poder (7,15-20). Pior era que conseguia levar muita gente por caminhos errados (24,11-12). Era muito joio no meio do trigo (13,24-30)
As Boas Notícias destas Comunidades de Mateus.
O Evangelho de Mateus relata assim  varias boa notícia que alegravam:
a)      Vários irmãos e irmãs seguindo as orientações de Jesus colocam em primeiro lugar o amor misericordioso (12,1-8). Muitos seguindo o exemplo de Jesus conseguem superar as tentações do poder, do prestígio e das soluções mágicas (4,1-11)
b)      As bem-aventuranças de Jesus transformaram a vida de muita gente. ( 5,1-12)
c)        Há muitos missionários e missionárias anunciando pelo mundo afora a boa notícia de Jesus (28,16-20)
d)      Vários irmãos estão se convencendo de que não são os meios poderosos e ostensivos que fazem avançar o reino de Deus, mas sim um estilo de vida pobre, como o de Jesus. (12,38-42)
e)      Apesar das mil dificuldades, inclusive dentro da própria família, muitos continuam firmes e fiéis no seguimento a Jesus (10,21-39)
Havia também outro problema sério, pois algumas pessoas se apresentavam como profetas e messias enviados por Deus. Na realidade eram pessoas falsas e maldosas, gananciosas e com coração cheio de cobiça e sede de poder (7,15-20). Pior era que conseguia levar muita gente por caminhos errados (24,11-12). Era muito joio no meio do trigo (13,24-30)
  1.  A COMUNIDADE DE MATEUS ESCLARECE QUEM É JESUS.
No trabalho de evangelização, se percebia que só falar em Jesus as pessoas reagiam, uns a favor, outros contra. A pergunta que mais circulava era: quem é este Jesus de Nazaré? Alguns não aceitavam de jeito nenhum que Jesus de Nazaré fosse o messias, o Salvado, o Filho de deus. E lançavam muitas calúnias, espalhando o boato que Jesus fosse possuído pelo demônio, que era um comilão, um amigo dos pecadores (11,19), que não tinha poder de perdoar os pecados, que era um mentiroso, que era um transgressor das leis do AT. Enfim, procuravam desmoralizar a memória de Jesus, afirmando que até o corpo dele foi escondido pelos seus discípulos depois de sua morte.
Por outro lado o povo tinha a maior admiração por Jesus e desejavam conhecê-lo:         “ Quem é este homem, a quem até o vento e o mar obedecem?” (8,27) Uns viam em Jesus o profeta Elias, outros achavam que fosse o profeta Jeremias e quando Jesus entrou em Jerusalém montado num jumentinho muitos diziam: “ é o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia” (21,1011.46)
Aí a Comunidade de Mateus recebeu depoimentos e testemunhos de pessoas que tinham conhecido Jesus de perto e escreveram o texto do Evangelho para todos ter mais clareza sobre Jesus e a sua missão. E aqui vai a síntese de sua reflexão:
- Jesus de Nazaré é a realização plena e perfeita de todas as promessas antigas conforme  a lista de 42 gerações (1,1-6) Jesus levou nossas enfermidades (Mt 8,17 x Is 53,4). Sempre se deixou conduzir pelo Espírito do Pai ( 3,17x Is 42,1).Anunciou o direito e a esperança às nações ( 12,18-20 x Is 42,1-4).
- Jesus é o Messias servo sofredor e vencedor. Os fariseus esperavam um Messias experto e radical na Lei antiga. Os zelotas esperavam um messias  guerreiro contra os romanos. João Batista esperava um messias de vida austera que condenasse os pecadores. Simão Pedro esperava um messias glorioso, milagroso e poderoso. Mas Jesus quer ser um messias servo sofredor que devia ir a Jerusalém para ser preso, condenado e morto, conforme o profeta Isaías (Is 42,1-4)
- Jesus de Nazaré é o Filho do Homem e o juiz do mundo. Esta expressão foi escolhida por Jesus conforme Ezequiel 2,1. Conforme o Sl 8,5. Conforme Daniel 7,3. Isso porque Jesus tinha uma vida humilde, pobre e sem segurança (8,20).
- Jesus de Nazaré é nosso único Mestre. Havia vários mestres, mas Jesus nos alerta:       “ Não imitem suas ações, pois eles falam e não praticam” (23,3) Isto é,  são pessoas metidas a mestre, mas são intolerantes e autoritárias, não respeitam a vida  e são causa de divisões nas comunidades(15, 1-9)
- Jesus de Nazaré é o missionário do Pai para anunciar e realizar o reino do Céu. Em Mateus se usa  o menos possível o santo nome de javé, Deus. Isso por respeito. E assim em Mateus se prefere dizer “Reino dos Céus” no lugar de dizer: ”Reino de Deus”. Mas é a mesma coisa para nós.Reino de Deus é grito de esperança e vida nova, é Deus reinando, na justiça, na igualdade, no respeito, na paz, sem exclusões.É anúncio – denúncia de todo missionário.
- Jesus de Nazaré é o Filho de Deus vivo. Foi a profissão de Pedro e de todos nós: (16,16) O Sinédrio, autoridade máxima dos judeus, considerou isso uma blasfêmia merecedora de morte (26,65). Jesus é o deus conosco, o Emanuel (Is 7,4) que está ao lado dos pequenos e dos perseguidos (25,31-46). “ de fato tu és o Filho de deus” (14,32-33) e o adoraram.
- Jesus de Nazaré, o crucificado, ressuscitou, está vivo e é o nosso Senhor. Sempre há gente que não querem olhar para a cruz, querendo pensar num Jesus glorioso, milagreiro, capaz de fazer grandes prodígios (7,22-23). Jesus nunca aceitou esse tipo de manipulação (12,39-41) Cremos que Jesus de Nazaré, o Messias servo sofredor, foi crucificado por causa de sua fidelidade á vontade do Pai (26,39-42). E é esse Jesus, morto e ressuscitado, vivo no meio de nós  que nós acolhemos como nosso único Senhor (28,7) Servir a ele  e não ao dinheiro (6,4) Servir  á fraternidade e não aos desentendimentos (5,21-26). Quem reconheceu  a Jesus como Senhor foram as pessoas humildes e marginalizadas, como o leproso (8,2) o centurião ( *,6-8) os dois cegos ( 9,28) a mulher Cananéia ( 15,22) o pai do jovem  endemoninhado (17,15) os cegos de Jericó (20,30).
4. A COMUNIDADE DE MATEUS QUER SEGUIR A JESUS DE NAZARÉ.
Saber quem é Jesus não é suficiente, é preciso segui-lo a partir de nossas realidades concretas.  Seguir a Jesus significa buscar a felicidade, apesar das mil dificuldades.
Viver suas bem-aventuranças para ser feliz.  Então pobres em espírito significa se deixar guiar pelo mesmo espírito de Deus. São os que procuram viver o mesmo estilo de vida de Jesus, isto é, a partilha (14,15-21), a misericórdia (9,13) as compaixão solidária (9,36). E como Jesus,  renunciam à ambição e à ganância (6,19-21).
- Seguir Jesus é caminhar rumo à perfeição do Pai. Não é só evitar o homicídio, adultério, divórcio, juramentos, vingança (5,21-47), mas  é praticar a reconciliação e  a partilha, superar o apego às riquezas, é ter grande confiança em Deus, igual à do filho com seu próprio pai. “Sejam perfeitos como é perfeito o vosso Pai que está no céu” (5,48). Enfim o resumo da perfeição está na prática do amor, até aos inimigos (5,43).
- Seguir a Jesus é rezar como ele rezou. (6,9-13) Jesus se dirigiu ao pai: três vezes para reafirmar a soberania do Pai, e quatro vezes para suplicar em favor de nossas necessidades.
- Seguir a Jesus é ser missionário.  Seguir Jesus e ser missionários é algo inseparável. Ser missionário segundo Jesus é não se deixar levar pelo fanatismo, como os fariseus, que gostavam de julgar e condenar. Assim a Comunidade de Mateus estabeleceu alguns critérios para ser missionário: olhar com amor a dura situação do povo, buscando soluções concretas (9,36). Ser pessoa de oração e testemunha a presença de deus Salvador (9,37-38). Ser um vocacionado, pois quem chama é Jesus a seguir sua mesma missão. (10,1-4). Visitar as casas levando sempre a boa notícia da paz (10).
- Seguir Jesus é não ter medo.  As Comunidades podem estar com medo no meio das dificuldades e se parecem um barco num mar agitado (8,26). Mas o medo surge onde falta a fé e assim a pessoa abandona o caminho do Evangelho e o compromisso com sua Igreja. Ter fé é crer que Deus dá a força para as pessoas vencerem dificuldades e se libertarem de todo tipo de mal.
- Seguir a Jesus é viver a alegria da ressurreição para levá-la mundo afora. Jesus sofreu carregando a cruz, mas não ficou enterrado para sempre. Nós confessamos e proclamamos que Jesus ressuscitou e está vivo para sempre. A partir da ressurreição, Jesus começou a chamar os discípulos de “meus irmãos”(28,10) e pediu que se encontrassem todos de novo na Galiléia de onde tinham começado. Na Galiléia enviou os discípulos para serem missionários. (28,19) e a boa notícia será que Jesus está vivo, e continua no meio de nós.
- Seguir a Jesus é ser uma Igreja de irmãos. Vejam as exigências para formar uma verdadeira comunidade:
1. Os pobres e os pequeninos em primeiro lugar! (18,1-5)
2. É proibido escandalizar os pequeninos (18,6-9)
3. Nunca abandonar os que se afastaram (18 10-14)
4. Correção fraterna e convivência comunitária (18,15-20)
5. Perdoar sempre (18 21-35)
6. Sobre tua fé edificarei minha igreja! (16,18)

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